As Chaves do Armário

Narro aqui a descoberta de três caras e compartilho-as com o mundo. O certinho, o romântico e o galinha. Qual deles terá a chave da felicidade? Aquela que abre as portas do armário? Algumas histórias aqui aconteceram de verdade, do jeitinho que está escrito. Outras aconteceram de forma semelhante, mas foram narradas com algumas alterações para que fosse preservada a identidade das pessoas mencionadas.

domingo, janeiro 07, 2007

Capítulo 15 - O Altão Mais Lindo (Se trancando dentro do Armário !!!)

Primeira história de 2007 e aí vai uma mensagem de alerta.
A aventura de hoje começou em agosto de 2002 era uma quinta de noite e estávamos no shopping de nossa cidade. Tomando muito chopp e paquerando muito. Por quê será que a bicharada ama um shopping? Eu estava sentado de frente para Patrick de modo que não via a pessoa que estava na mesa de frente para ele. Paolo estava no meio de nós dois. No meio da conversa Patrick começou a ficar mudo e ausente, e olhava para sua frente o tempo todo. E começou a fazer o olhar de quando estava caçando. É um olhar estranho, ele fixa o olhar para a caça e só tem aquilo na vida dele. E fica com um puta olho de peixe morto, que na nossa opinião, em vez de conquistar amedronta o possível pretendente. Enfim, nem ousei olhar para trás para saber quem era o possível pretendente. Parece que o cara foi embora e Patrick decidiu ir também. Aproveitamos e fomos todos, afinal tínhamos que descansar e nos arrumar para a balada.
No outro dia decidimos fazer bate e volta e irmos para uma boate de uma cidade vizinha. Fomos conversando como sempre e na época, socorro!!!, estávamos numa de escutar Britney Spears (com dois anos de atraso)... Affff. E fomos a viagem inteira cantando Oops I did It Again... (sim, todos temos uma mancha negra em nossa vida). Chegamos no lugar, que para mim, mais parecia um pulgueiro. Sempre pensei que boate gay não combinava com manos, e pensava ainda que não existia mano gay. Mas este lugar me fez desacreditar em minhas opiniões. O fato é que chegamos e como sempre eu me afastei deles para caçar sossegado. Todos achavam que eu e Patrick namorávamos e éramos os putos, pois estávamos sempre juntos, mas na boate ficávamos com pessoas diferentes. Realmente, de vez em quando, um empatava a foda do outro. Na boate eu fiquei de costas para eles, e de repente um cara muito bonito entrou. Alto (mais de 1,90), cabelo preto liso na frente estilo o do Santoro, uma pele bem branquinha e uma pinta muito charmosa perto da boca. Uma versão homem da Cindy Crawford. Assim que o cara entrou, cruzamos olhares e começamos a rir. Rir muito. Ele parou exatamente na minha frente, mas do outro lado da pista e tudo que eu fazia ele imitava. Tragava depois de eu tragar, bebia depois de eu beber. E veio sorrindo conversar comigo. Sempre tive um lance estranho de chegar na pessoa e não gostava de ficar com quem chegava em mim. Mas sei lá o que me deu e logo estávamos nos beijando. O cara beijava muuuuuiiiiito!!! Vi que Patrick e Paolo estavão na pista e continuei beijando meu alto da pinta na boca. Daí vi que Paolo estava ficando com o Moranguinho. O Moranguinho era uma bichinha apaixonada por Paolo que ia sempre com a mesma camiseta nas boates, uma que tinha um morango na frente. Mas Paolo não era afim dele e ficava de tanto que enchíamos seu saco. Patrick estava afim do promoter do lugar, que realmente era muito bonitinho, mas não dava papo para ele. E ficamos nesta. Eu beijando o altão, Paolo beijando o moranguinho e Patrick olhando o promoter.
Umas três horas depois Patrick quis ir embora e resolvemos que íamos todos e como Felipe, o meu altão, morava uma cidade antes, eu fui no carro dele, Paolo dirigiu meu carro e levou Patrick e o amigo do altão que era muito estranho. Fomos tipo em comboio, mas eu estava morrendo de tesão e comecei a pegação no carro mesmo. Foi quando o Felipe me contou que estava no shopping no dia anterior, sentou na mesa atrás de mim. Me viu, mas Patrick não tirava os olhos dele. Puta merda, fiquei com o cara que o Patrick estava afim. Mas o cara era muito gato e não havia mais o que fazer. Chegamos a cidade do cara e voltei para o meu carro, não sem antes nos beijarmos muito, ele foi embora com os amigos dele e fomos para nossa cidade. Deixei Patrick primeiro e conversei com Paolo. Ele me disse que sim, era o cara mesmo, mas para eu desencanar. No outro dia tentei puxar este assunto com Patrick, mas ele cortou e falou que o cara era feio e coisa e tal. Nunca mais conversamos sobre isto. Desencanei e de noite o cara fez um jantar na casa dele para mim. Ele morava em São Paulo, tinha terminado um namoro e estava passeando na casa dos pais. Cheguei bebemos muito vinho e fomos transar. Puta merda, que pau gostoso. O cara falou que só chupava de camisinha, encapamos e nos chupamos a noite toda. Na hora de ir embora ele decidiu ir comigo, e ficou o domingo inteiro na minha casa. E durante duas semanas, foi isto. Ele indo para minha casa de noite, eu o comendo muito, o chupando muito e beijando muito também. Mas ele tinha trabalho em São Paulo. Numa quinta feira de tarde resolvi ir para São Paulo na casa dele. Chamei Paolo, pegamos o carro e chegamos lá de madrugada depois de seis horas de viagem. Jà cheguei e fodemos por todo canto da cobertura dele. Daí no outro dia fomos passear no shopping. Estávamos nesta a três semanas. Ele me chamou para ir no médico com ele pois tinha que buscar um exame.Não me disse que exame era, nem se estava com algum problema. Fui com ele e lá foi como se um míssel tivesse caído sobre nós. O médico, um infectologista, disse que ele era soropositivo, e eu ali do lado. Não sabia o que fazer. Ele chorou muito, se desesperou. Eu estava calado, assustado, não por mim, mas por ele. Fiquei dois dias na casa dele e voltei para minha cidade. Tinha terminado com meu namorado por causa dele. Não aguentei e contei para Paolo e Patrick (o cara deve ter ficado aliviado). No fim de semana ele voltou, mas não conseguia transar. Estava com medo de me passar. Falei para ele o que realmente penso: a grande diferença quando se sabe que o parceiro é soropositivo, é que a gente vai se cuidar muito mais. Com quantos carinhas devo ter transado que eram mas eu não sabia? A diferença é que com ele eu sabia e ia me cuidar mais. Ele me contou que havia terminado com o namorado por que o cara descobriu que era... e que ele estava com muito medo de ser também e que agora ele poderia ter passado para o cara e não o contrário. Ele morria de medo de me passar. Disse que não se perdoaria. Eu falei para ele que tudo bem, poxa sabemos como nos cuidar para não sermos "atingidos" pelo vírus, que era para ele ficar de boa. Mas duas semanas depois ele não aguentou. Falou que tinha muito medo de me passar que era para eu voltar para o meu namorado, ele voltaria para o dele. E assim, num quarto de hotel lindo na beira da praia, eu liguei para meu namorado da varanda e ele ligou para o dele de dentro do banheiro. Nos demos um abraço e nos tornamos grandes amigos. Falando assim parece que foi fácil, mas é foda só de lembrar. Um ano depois ele havia encontrado um cantor sertanejo famoso, que queria namorar com ele. Seu namoro não ia bem, ele me ligou. Disse que não podia estragar a vida do cara. Que se eu que ele amou tanto, e que lhe dava suporte, fui cortado da sua vida sexual e afetiva, ele não ia ficar com um cantor só porque o cara era famoso, milionário, mas que só podia ter sexo com ele. Fiquei com dó. O cara deixou de fazer muitas coisas e principalmente não se permitiu mais amar. Definitivamente se trancou. Muitas coisas passam em nossa mente quando descobrimos um parceiro soropositivo. Não vou ser hipócrita de não falar que me caguei todo quando fui buscar o resultado logo em seguida a nosso relacionamento, que tive medo sim de viver a vida inteira com uma pessoa que poderia ficar doente, mas sei que a pessoa se cuidando pode viver anos. Temo por esta nova geração que vem aí. Na minha época as pessoas morriam de Aids de uma forma mais forte, assustadora. Minha geração é a geração camisinha. Quem não se lembra de Cazuza na capa da Veja, Renato Russo, Lauro Corona. Hoje quem é o ídolo desta galerinha que está definhando por causa da doença? Enquanto isto, meu altão, faz seu tratamento. A barriga cresceu um pouco, e fez cirurgia para tirar um excesso de gordura. Mas vive bem. Quanto a mim, continuei fazendo meus testes de seis em seis meses, transando muito (de camisinha, claro) e tentando alertar a todos que a Aids é um perigo real, está aí, e só depende de nós pegarmos ou não.

5 Comments:

Blogger O Marinheiro said...

Bom, primeiro, obrigado pela lembrança e pelo agradecimento. :D

Engraçado vc postar sobre esse assunto. Passei um período bem complicado por causa disso tbem. Um amigo meu morreu em novembro sem nem saber que era soropositivo, só descobriu quando já estava muito doente, sem nem ter tido tempo de tentar se tratar. Fui apaixonado por ele durante um ano e ele me dizia que não podia ficar comigo e que eu dia eu saberia o porque (li muito o blog dele no final e ele dizia que nao sabia mas tinha um sexto sentido, nunca nem tinha feito o exame). Se eu tivesse ficado junto, provavelmente teria pegado tbem, pq amava tanto ele que não ia exigir sexo seguro. Esse é o mal da nossa geração: a gente sabe que tem que se cuidar, sabe como se faz, sabe que a doença existe mas nunca acha que vai acontecere com a gente, que sempre tá muito longe.

Fiquei louco depois que ele morreu, o HIV tinha batido na minha porta. Fiz o exame pq tinha transado com outro cara sem camisinha e deu negativo (felizmente!). Pelo menos agora a lição veio e eu aprendi. Não tem jeito mesmo: só quando a água bate na bunda é que a gente aprende.

Abração! E até o próximo post. (E eu quase escrevi um post aqui tbem, né hehehe)

3:52 PM  
Anonymous Anônimo said...

Que bom que curtiu os meu comentários e se lembrou de mim.
Mudando de assunto...cara, que soco no estômago essa sua história, viu?
Cara, eu tenho me descobrido lendo suas histórias. Tem refletido sobre coisas que nunca tinha pensado - a clandestinidade que é a primeira vez de muitos gays é o que tenho mais refletido.

Essa do sexo oral com camisinha, que tu fizestes com o altão tb é algo interessante a se pensar. Aliás, queria propor que vc incluísse nos seus escritos as sensações que teve ao fazer com cada parceiro (cheiros, etc.).Sou muito ligado ao sensorial, e gosto de saber como cada um o percebe.

No mais, estou louco pra que chegue terça-feira pra desfrutar de mais uma aventura.
Abraço a todos,

Péricles_Souza

5:15 PM  
Anonymous Anônimo said...

putz! lembrei do dia q vc me contou q o "felipe" tinha aids... foi uma barra mesmo. choramos mto, lembra?! eu tava desabafando dos meus problemas e vc me joga uma bomba dessas. nossa, foi f-o-d-a!
aí decidimos ir juntos fazer o exame... eu não fui... a idéia de ficar esperando no consultório me dava arrepios(babaquice!). só fiz depois de um tempo, e... sozinho.

essa viagem p/ sampa foi hilária. do nada "a doida" bate lá em casa dizendo: " - vamos pra sampa a-g-o-r-a!", e "a lôca" aqui vai,né! lembra q andamos uma boa distância com o freio de mão do carro puxado?!? rs rs rs

e, só p/ registrar o q um amigo é capaz de fazer. é bom deixar claro, tá, q só fiquei c/ o "moranguinho" (urgh!) por q ele era amigo do "promoter" q o patrick era afim e, "tentei" aproximar os dois. mas, c/o vc bem "escreveu", olhar de peixe morto assusta. rs rs rs

e, qnto a britney, o pior era qndo vc colocava a mesma música p/ tocar repetidamente, várias e várias vezes. se bem lembro era aquela:
"... as vezes eu corro!" rs rs rs

bom, tenho me divertido mto lembrando dessas coisas.

saudades, e breve estaremos juntos.

abração

2:57 PM  
Anonymous Anônimo said...

Essa estória é fascinante, pois mtos ainda não passaram por essa situação e realmente não estamos preparados para lidar com certas barreiras que a vida nos impõe.
Mas a sua atitude foi brilhante e a mais justa de todas... acho que todos devemos pensar bem, principalmente nos colocar no lugar do outro...
Outra coisa importante é reforçar o uso do preservativo. Por isso digo, seus textos são demais !!! Adoroooooooooo...
Valeu pelo carinho do post anterior e desejo à vc um 2007 cheio de realizações, sucesso, mto amor e saúde...
Bjão

4:41 PM  
Anonymous Anônimo said...

Rapaz, este capítulo foi demais!
Já vivi uma experiência igual a essa e o cara teve a mesma atitude: ficou com medo.
Você detonou com esta frase: “Falei para ele o que realmente penso: a grande diferença quando se sabe que o parceiro é soropositivo, é que a gente vai se cuidar muito mais.” Penso da mesma forma. Quem garante que nunca encontramos pessoas portadoras do vírus por nossas “andanças”?
Tudo de bom para você. Continuarei aqui.
Abração,
KADU

9:41 PM  

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